quinta-feira, 30 de julho de 2009

O Colecionador

Frequentemente, o padre levava toda a classe pelos bosques de Shrewsbury, em longas caminhadas durante as quais explicava, de maneira gostosa e agradável, o porquê de um carvalho se diferenciar de um azinheiro. Aprendeu a diferenciar as folhas das árvores, a distinguir suas bordas, a classificá-las. E nessas andanças, aprendeu também a levar para casa muitos achados estranhos e diferentes, especialmente minerais e cristais. Essa primeira coleção tomou-lhe completamente o entusiasmo. Aos poucos, deu-se a colecionar tudo o que encontrava ou conseguia: selos, conchas, moedas e até folhas. Encontrava nisso um prazer inesperado e completo. Ter em ordem, ainda que não classificados, todos aqueles espécimes, deixava-o eufórico. Achava a coleção de minerais e cristais a mais bonita e as folhas tornoram-se um problema pois não sabia como conservá-las, então aos poucos largou a coleção de folhas. Estava sempre à catar pedras de minérios e cristais diferentes. Às vezes até pagava para conseguir algum espécime de cristal que ainda não possuía. Os outros meninos da redondeza e seus colegas de escola perceberam essa sua mania e começaram a se aproveitar disso para lhe vender simples pedaços de minérios que ele achava uma maravilha e algo fora do comum. Depois, de certa forma, começaram a gozá-lo. Não entendiam o prazer de colecionar pedras, toda aquela ânsia que parecia possuí-lo.
Na escola do padre Gates, Charles passou apenas um ano. Saiu do colégio com razoáveis conhecimentos de história natural e poucas noções de gramática e aritmética, o que, bem na verdade, o deixou pouquíssimo preocupado.
Charles Darwin - 1816

O Moleque De Shrewsbury


Charles Robert Darwin nasceu no dia 12 de fevereiro de 1809 em Shrewsbury, na Inglaterra, na casa de seu pai, dr. Robert Waring Darwin.
Charles possuia olhos claros, um rosto comum e ligeiramente inexpressivo, a boca larga, o narizinho redondo e um pouco maior do normal. Era um menino como os outros, tão comum em sua aparência quanto em sua inteligência. Cresceu como todos os outros meninos de sua idade. Aprendeu a dizer mãe na idade certa; teve sarampo, varicela, tosse comprida, caxumba e todas as gripes que chegavam pontualmente a cada inverno. De todas essas doenças, foi curado amorosamente e com competência pelo próprio pai, médico famoso e bem sucedido na região.

Dr Robert Darwin. Oil Painting. Artist: James Pardon. Shrewsbury Museums Service.
O dr. Darwin era um homem alto, de físico privilegiado e de maneiras corretas e extremamente inglesadas. Desde os 22 anos, exercia sua profissão em Shrewsbury e possuia assim uma boa e fiel clientela. Tendo então alcançado um tranquilo e sossegado nível de vida, procurava ajudar as pessoas necessitadas de todas as maneiras, tanto profissionalmente, quanto particularmente, com empréstimos e doações. Aos pobres não cobrava consultas, aos ricos exigia honorários em dobro. O que mais impressionava seus pacientes, todavia, era sua delicadeza e bondade de alma, o dr. Darwin não podia nem presenciar a uma operação cirúrgica, aconselhando seus pacientes a procurar outro médico quando isso se tornava indispensável. O simples curativo de uma ferida sangrando o deixava pálido e enjoado pelo resto do dia. Não conseguia matar nem um inseto, com exceção daqueles que reputava necessário exterminar para o bem e a sobrevivência de outros espécimes. Seus passatempos preferidos consistiam em cuidar das flores raras que mantinha na estufa e nas longas cavalgadas pelo condado.
Casado com uma boa e santa mulher, Susan Wedgwood, amorosa com a família e a natureza, o dr. Darwin era um homem feliz e sem preocupações, a não ser aquelas provindas do crescimento dos filhos e de seu futuro. Antes do nascimento de Charles, já era pai de duas crianças, Caroline e Erasmus. Depois de Charles, a família havia aumentado com o nascimento de mais duas filhas, Susan e Catherine. Os dois rapazes, especialmente Charles, possuíam o hábito de desaparecer de casa por longo tempo, perdendo-se por entre os bosques da região e divertindo-se a explorar a natureza e a vida. Voltavam para casa sujos e suados, cansados e esfomeados.

The Mount
Susan, então, dava-lhes a reprimenda de costume e depois, por castigo, os convidava a ir com ela para o jardim, para auxiliá-la no quotidiano trabalho que ela dispensava às flores dos canteiros. As azáleas, as gencianas e os gladíolos recebiam uma porção de afeto quase proporcional àquele que ela dispensava à família. Para Susan, as flores eram coisas magníficas e entusiasmantes. Às vezes, até falava com elas.
Charles seguia a mãe nesse seu trabalho matutino e ficava intrigado ao vê-la falar com os gladíolos. Aguçava até os ouvidos,
tentando captar a resposta das flores.
Charles queria aprender a distingui-las, Susan então ensinou-lhe como fazer. Assim, Charles reconhecia-as quase todas, olhando apenas para suas pétalas e folhas, distinguia um espécime de outro com rapidez e exatidão, divertia-se com isso até fora do jardim, quando encontrava em suas andanças pelos bosques flores selvagens e desconhecidas.
Quando Susan Wedgwood Darwin faleceu, Charles tinha completado há poucos meses oito anos de idade. Já era um rapaz robusto, embora não muito alto. Mas conhecia todas as flores e boa parte das plantas que nasciam no Shropshire.
Em 1817, logo após a morte da mãe, Charles foi matriculado no colégio diurno de Shrewsbury, para começar a estudar. A escola ficava à 7 milhas de The Mount, o colégio era dirigido pelo padre Gates, um bom homem que misturava às aulas de gramática a longos sermões. O padre, todavia, possuía um dom que logo cativou Charles. Ele também gostava das plantas, conhecia o nome de quase todas elas e sentia prazer em ensiná-los aos meninos. Assim, Charles continuou sua exploração da natureza.

Shrewsbury School