Dr Robert Darwin. Oil Painting. Artist: James Pardon. Shrewsbury Museums Service.
O dr. Darwin era um homem alto, de físico privilegiado e de maneiras corretas e extremamente inglesadas. Desde os 22 anos, exercia sua profissão em Shrewsbury e possuia assim uma boa e fiel clientela. Tendo então alcançado um tranquilo e sossegado nível de vida, procurava ajudar as pessoas necessitadas de todas as maneiras, tanto profissionalmente, quanto particularmente, com empréstimos e doações. Aos pobres não cobrava consultas, aos ricos exigia honorários em dobro. O que mais impressionava seus pacientes, todavia, era sua delicadeza e bondade de alma, o dr. Darwin não podia nem presenciar a uma operação cirúrgica, aconselhando seus pacientes a procurar outro médico quando isso se tornava indispensável. O simples curativo de uma ferida sangrando o deixava pálido e enjoado pelo resto do dia. Não conseguia matar nem um inseto, com exceção daqueles que reputava necessário exterminar para o bem e a sobrevivência de outros espécimes. Seus passatempos preferidos consistiam em cuidar das flores raras que mantinha na estufa e nas longas cavalgadas pelo condado.
Casado com uma boa e santa mulher, Susan Wedgwood, amorosa com a família e a natureza, o dr. Darwin era um homem feliz e sem preocupações, a não ser aquelas provindas do crescimento dos filhos e de seu futuro. Antes do nascimento de Charles, já era pai de duas crianças, Caroline e Erasmus. Depois de Charles, a família havia aumentado com o nascimento de mais duas filhas, Susan e Catherine. Os dois rapazes, especialmente Charles, possuíam o hábito de desaparecer de casa por longo tempo, perdendo-se por entre os bosques da região e divertindo-se a explorar a natureza e a vida. Voltavam para casa sujos e suados, cansados e esfomeados.
The Mount
Susan, então, dava-lhes a reprimenda de costume e depois, por castigo, os convidava a ir com ela para o jardim, para auxiliá-la no quotidiano trabalho que ela dispensava às flores dos canteiros. As azáleas, as gencianas e os gladíolos recebiam uma porção de afeto quase proporcional àquele que ela dispensava à família. Para Susan, as flores eram coisas magníficas e entusiasmantes. Às vezes, até falava com elas.
Charles seguia a mãe nesse seu trabalho matutino e ficava intrigado ao vê-la falar com os gladíolos. Aguçava até os ouvidos,
tentando captar a resposta das flores.
Charles queria aprender a distingui-las, Susan então ensinou-lhe como fazer. Assim, Charles reconhecia-as quase todas, olhando apenas para suas pétalas e folhas, distinguia um espécime de outro com rapidez e exatidão, divertia-se com isso até fora do jardim, quando encontrava em suas andanças pelos bosques flores selvagens e desconhecidas.
Quando Susan Wedgwood Darwin faleceu, Charles tinha completado há poucos meses oito anos de idade. Já era um rapaz robusto, embora não muito alto. Mas conhecia todas as flores e boa parte das plantas que nasciam no Shropshire.
Em 1817, logo após a morte da mãe, Charles foi matriculado no colégio diurno de Shrewsbury, para começar a estudar. A escola ficava à 7 milhas de The Mount, o colégio era dirigido pelo padre Gates, um bom homem que misturava às aulas de gramática a longos sermões. O padre, todavia, possuía um dom que logo cativou Charles. Ele também gostava das plantas, conhecia o nome de quase todas elas e sentia prazer em ensiná-los aos meninos. Assim, Charles continuou sua exploração da natureza.
Shrewsbury School